terça-feira, 29 de novembro de 2011

Advento no Plano da Salvação


"O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz."
A palavra "advento" significa literalmente "vinda, chegada". O período do Advento abrange os quatro últimos domingos antes do Natal, que dão início ao chamado ano litúrgico. Ele sempre começa no Primeiro Domingo do Advento e se estende até o fim de novembro do próximo ano. Naturalmente trata-se apenas de uma tradição eclesiástica. Além disso, sabemos que o nascimento de Jesus não ocorreu no dia 25 de dezembro. Na verdade, a comemoração do Natal passou a ser algo rotineiro, destituído do verdadeiro significado, e é cada vez mais comercial.
Quando o ano está chegando ao fim, começa o tempo de expectativa para a comemoração da primeira vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas não devemos esquecer que também quanto ao Plano de Salvação encontramo-nos no tempo do Advento, atualmente mais do que nunca! Estamos hoje no período em que rumamos claramente em direção ao dia da segunda vinda do Senhor. Bem-aventurados aqueles que vivem conscientemente também neste tempo de Advento do Plano de Salvação, pois o Senhor diz deles: "Bem-aventurados aqueles servos a quem o Senhor, quando vier, os encontre vigilantes; em verdade vos afirmo que ele há de cingir-se, dar-lhes lugar à mesa e, aproximando-se, os servirá" (Lc 12.37). Que palavras grandiosas!
Afinal, o que faz com que o tempo de Advento seja tão especial? Há nele três coisas importantes:
– o tempo da alegria antecipada– o tempo da espera– o tempo da preparação
O tempo da alegria antecipada
Naturalmente o tempo da alegria antecipada no Advento tem diferentes aspectos. Mas para nós, filhos de Deus, trata-se em primeiro lugar da grande alegria – do nascimento de Jesus! Realmente temos razão para nos alegrar, pois está escrito no livro do profeta Isaías, onde é prometido o Príncipe da Paz: "O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz. Tens multiplicado este povo, a alegria lhe aumentaste; alegram-se eles diante de ti, como se alegram na ceifa e como exultam quando repartem os despojos" (Is 9.2-3). Certamente está claro para cada um de nós, como filhos de Deus, que o Natal é a festa da alegria e justamente por isso podemos nos alegrar de todo o coração no tempo do Advento.
Se o tempo do Advento que se repete a cada ano já nos enche com tanta alegria por nos recordarmos da primeira vinda de nosso Senhor, o Advento do Plano de Salvação – o tempo de expectativa pela Sua segunda vinda – não deveria nos encher de muito mais alegria? Vivemos hoje num momento avançado do Advento do Plano de Salvação, e esperamos que a volta do Senhor não demore. Será que nos alegramos com isso? Nossos corações exultam tanto em relação à iminente segunda vinda de nosso Salvador como em relação à próxima festa do Natal? Se não for assim, somos semelhantes a pessoas das quais Paulo diz em 1 Coríntios 15.19: "Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens."
Certamente a vida com Cristo aqui na terra pode proporcionar muitas vezes um antegosto do céu, mas está longe de ser o próprio céu. O melhor ainda está por vir! E deveríamos finalmente começar a nos alegrar de todo o coração com isso!
Por que, afinal, alegramos-nos tão pouco pelo céu? Porque pouco ou nada nos ocupamos com ele. Quando alguma coisa nos interessa e nos envolvemos com ela, por exemplo, com um hobby especial, essa ocupação nos satisfaz. Exatamente o mesmo acontece com o céu. Se neste tempo do Advento do Plano de Salvação, no qual vivemos agora, nos ocupássemos mais com o céu, a nossa alegria antecipada também seria muito maior!
O Senhor Jesus disse: "Porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração" (Lc 12.34). Com isso Ele quer nos dizer que essas duas coisas não podem ser separadas. Onde está o nosso coração, ali também estão as coisas com que mais nos ocupamos; e onde estiverem essas coisas, também estará sempre o nosso coração. Portanto, ocupe-se intensamente com aquilo que ainda virá. Direcione o seu coração intensivamente para o céu, pois então ele se tornará um tesouro para você! Isso lhe dará a verdadeira alegria antecipada, que é tão importante neste tempo de Advento do Plano de Salvação. Por isso: "Alegrai-vos no Senhor, e regozijai-vos, ó justos; exultai, vós todos que sois retos de coração" (Sl 32.11) – pois nosso Senhor virá em breve!
O tempo da espera
Sabemos muito bem por que nestes dias as crianças vivem numa espera tão ansiosa: por causa dos presentes e doces que receberão. Aliás, essa ansiedade também acontece com muitos adultos.
Mas, seja como for, o fato é que o tempo do Advento é caracterizado pela espera. Por isso, muitos filhos de Deus também almejam novas bênçãos justamente neste tempo do Advento. Isso é perfeitamente correto, sobretudo porque no tempo do Advento vivemos em direção ao Natal. Almejamos um ponto culminante, e quando ele acontece esperamos um novo fortalecimento para nossa vida espiritual. Esperamos que o nascimento de Jesus Cristo, que aconteceu há quase dois mil anos, torne-se tão novo e real para nós que disso resulte um novo proveito interior. Desfrutaremos desse proveito se tivermos a posição correta em relação à festa de Natal. Ao mesmo tempo, porém, não precisamos apenas pensar em bênçãos que já recebemos – por exemplo, por ocasião do último Natal –, mas podemos almejar bênçãos ainda maiores e melhores. Pois a verdadeira espera sempre tem relação com o desejo de possuir mais do que se tem no momento. Com toda a certeza, nesta questão também podemos esperar pela fé, com ousadia, por mais do que já temos recebido.
A respeito, vamos lembrar um exemplo de tempos antigos: o rei Amazias de Judá preparou-se para a guerra contra os homens de Seir. Ele passou em revista 300.000 homens escolhidos de Judá (2 Cr 25.5). "Também tomou de Israel a soldo cem mil homens valentes por cem talentos de prata" (v.6). Mas um homem de Deus veio a ele dizendo-lhe que perderia a guerra se não mandasse de volta para casa esses mercenários (v.7-8). Amazias estava perfeitamente disposto a mandá-los novamente para casa, mas preocupou-se com os cem talentos de prata já pagos: "Disse Amazias ao homem de Deus: Que se fará, pois, dos cem talentos de prata que dei às tropas de Israel?" (v.9a). A maravilhosa resposta foi: "Muito mais do que isso pode dar-te o Senhor" (v.9b). Em outras palavras: "Amazias, esses cem talentos de prata são valiosos – mas o que é isto para o Senhor?! Ele pode lhe dar muito mais; espere somente nEle."
Da mesma maneira, também podemos viver nessa ansiosa expectativa, principalmente porque podemos esperar novas e maiores bênçãos, olhando para o Filho de Deus, que veio para esta terra há quase dois mil anos.
Mas voltemo-nos novamente para o futuro e perguntemo-nos: o Advento do Plano de Salvação também é caracterizado por expectativas? Com certeza. Pois no fim deste tempo do Advento esperamos Jesus Cristo em pessoa. Filipenses 3.20 nos diz de maneira maravilhosa: "Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo". E em Tito 2.13 está escrito: "Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus." Ou pensemos numa outra grandiosa esperança, da qual fala Pedro: "Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça" (2 Pe 3.13). O Advento no Plano de Salvação é marcado por grandiosas esperanças!
Mas por que, então, vivemos geralmente como se não partilhássemos dessa expectativa maravilhosa, mesmo sabendo que já estamos bem adiantados no Advento do Plano de Salvação? Vamos ver isso através dos exemplos de duas pessoas que nos mostram literalmente o que significa viver em atitude de espera no Advento do Plano de Salvação: Simeão e Ana. Ambos moravam em Jerusalém e ali esperavam pela primeira vinda do Messias: "Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; homem este justo e piedoso que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele... Movido pelo Espírito, foi ao templo; e, quando os pais trouxeram o menino Jesus... o tomou nos braços e louvou a Deus, dizendo: Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação... Havia uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser... Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações. E, chegando naquela hora, dava graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém" (Lc 2.25-38).
Essas duas pessoas – antes de terem visto o menino – viviam literalmente no Advento do Plano de Salvação, pois esperavam a primeira vinda do Senhor, como nós esperamos pela Sua segunda vinda. Por isso, justamente elas são o melhor exemplo para nós no que se refere à questão do que é a esperança do Advento no Plano de Salvação. Para responder a essa pergunta, só precisamos destacar duas características dessas duas pessoas. Do velho Simeão lemos: "...homem este justo e piedoso que esperava a consolação de Israel" (v.25a), e da profetisa Ana: "...Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações" (v.37). A força dessas duas pessoas consistia delas não apenas esperarem pelo Senhor, mas de cultivarem, cuidarem e alimentarem sua expectativa. Por isso, o seu anseio pelo Senhor era ardente e genuíno. Simeão não somente esperava pela "consolação de Israel", pois ao mesmo tempo ele era "justo e piedoso." Dessa maneira ele alimentava a sua espera. A profetisa Ana "...não deixava o templo, mas adorava a Deus... dia e noite." Assim ela cuidava da sua espera e a mantinha ardente e viva.
Por que, entretanto, a expectativa de muitos ainda é tão morna, embora também vivam no Advento do Plano de Salvação? A razão está no fato de não alimentarem esse anseio em seu íntimo. Por isso, o fogo da espera quase se apaga, quase se extingue, porque não se alimenta essa chama. Assim, não é de admirar que quase não se sinta mais nada a respeito.
Portanto, será que não está na hora de começar a alimentar e avivar a espera em seu coração, para que ela passe a ser novamente ardente? Talvez você até precisa ir para a UTI espiritual, ou seja, começar a ocupar-se com Jesus de uma maneira totalmente nova e, talvez pela primeira vez, a pensar em Sua iminente volta. Comece desde já! Pois somente assim o seu anseio no Advento do Plano de Salvação se renovará, ficará forte e cheio de expectativa. Somente assim você se tornará um cristão ansioso pela volta do Senhor, porque nutrirá grandes esperanças por esse glorioso dia. Afaste seus olhos de todas as coisas temporais, de tudo aquilo que nos cerca aqui, porque a glória que nos espera na Eternidade não pode ser comparada com nada neste mundo. Pois então se cumprirá integralmente o que o homem de Deus disse a Amazias: "Muito mais do que isso pode dar-te o Senhor." Mas a escolha é sua. Você pode avivar essa espera até à paixão ardente, se começar a alimentá-la e cultivá-la. Portanto, ocupe-se muito, ocupe-se intensamente com Jesus e com Sua palavra, com Sua iminente volta – e você verá que um grande anseio se acenderá em seu coração!
O tempo da preparação
Nestes dias de Advento, antes do Natal, muitas coisas ainda precisam ser preparadas. Por toda parte há muito para se fazer e terminar. De maneira geral, as semanas do Advento deveriam ser dias de meditação e reflexão. Mas acontece justamente o contrário. Realmente é impressionante a intensa atividade antes do Natal.
Não me refiro somente aos esforços deste mundo com as muitas decorações natalinas, cheias de brilho e de luz, para vender o máximo possível. Mas observe por um momento o seu próprio lar e o seu local de trabalho. O que você vai encontrar ali? Inusitada atividade, muito trabalho e muitas coisas que ainda precisam ser feitas. Por que há tanta agitação nestas semanas antes do Natal, que deveriam ser de calma e reflexão? Porque na noite do dia 24 pretende-se ter tudo pronto e preparado para festejar o Natal com a família, sem mais correrias.
Tudo isso se aplica também ao Advento no Plano de Salvação, no qual nos encontramos hoje. Pois, da mesma maneira como se avalia erradamente o tempo de Advento antes do Natal, muitas vezes também não se avalia corretamente o Advento no Plano de Salvação. Muitos pensam que esta época deve ser comemorada em paz, quietude e reflexão. Mas esse período também exige muito trabalho e preparação. É isso que o Advento no Plano de Salvação exige de cada um de nós, filhos de Deus! Mas é doloroso perceber que muitos não notam que hoje nos encontramos no último trecho do caminho. Já é tempo de nos darmos conta de que o Advento no Plano de Salvação exige tudo de nós e realmente devemos nos preparar com toda a presteza para a iminente vinda de nosso Senhor Jesus Cristo!
Mas como devemos nos preparar? Nesse contexto, pensei num relato em 2 Reis. Ali se fala de uma mulher que sempre convidava o profeta Eliseu para as refeições. Acerca dela lemos em 2 Reis 4.9-10: "Ela disse a seu marido: Vejo que este que passa sempre por nós é santo homem de Deus. Façamos-lhe, pois, em cima, um pequeno quarto, obra de pedreiro, e ponhamos-lhe nele uma cama, uma mesa, uma cadeira e um candeeiro; quando ele vier à nossa casa, retirar-se-á para ali." Esta mulher esperava o profeta Eliseu e preparou-se convenientemente para a sua chegada. Primeiro, junto com seu marido, ela preparou um quarto para ele. Que figura gloriosa do espaço que devemos dar ao Senhor em nossa vida! Ele realmente tem recebido tudo o que merece em sua vida? Justamente agora, neste Advento no Plano de Salvação, faz parte dos preparativos mais importantes realmente darmos todo o espaço ao Senhor!
Além disso, essa mulher (com a ajuda do seu marido) colocou uma cama para o profeta no quarto. Com isso ela quis dizer: "Eliseu, não fique apenas uma noite, mas fique sempre conosco!" Você também tem dito sempre a Deus: "Senhor, eu nunca mais quero viver sem Ti. Fica sempre comigo"?
O casal também colocou uma mesa e uma cadeira no quarto. Isso indica: "Eliseu, também trabalhe conosco!" Se você deu ao Senhor todo o espaço que Ele merece, também deveria permitir que Ele trabalhe em seu coração! Você está disposto a isso?
Por fim, a mulher ainda colocou um candeeiro no quarto, o que dá a entender: "Eliseu, fique conosco também quando vem a noite". Justamente hoje – neste Advento no Plano de Salvação – é extremamente necessário reconhecer que este mundo ficou muito escuro. Por isso, peça ao Senhor, insista com Ele, para ficar com você. Diga-Lhe como disseram outrora os discípulos de Emaús: "Fica conosco, porque é tarde, e o dia já declina" (Lc 24.29a). Fazendo isso, você estará se preparando para a iminente vinda do Senhor, que lhe diz: "Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor, quando vier, os encontre vigilantes; em verdade vos afirmo que ele há de cingir-se, dar-lhes lugar à mesa e, aproximando-se, os servirá" (Lc 12.37). (Marcel Malgo - http://www.chamada.com.br)

domingo, 20 de novembro de 2011

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo!



Dom Orani João Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro - RJ

O último domingo do ano litúrgico, o XXXIV do Tempo Comum, nos traz de volta para a fonte e o ápice da nossa fé. Nós celebramos, na verdade, hoje, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Toda a liturgia da Palavra e a Liturgia da Eucaristia, que são os dois momentos essenciais da Missa, fazem-nos espiritualmente desfrutar deste grande tema de relevância teológica e moral para todo crente.

E é o apóstolo Paulo a compreender os aspectos essenciais do tema no texto da Primeira Epístola aos Coríntios (1Cor 15,20-26.28), que podemos ler e meditar hoje: "Irmãos, Cristo ressuscitou dentre os mortos, as primícias dos que morreram, porque, se por meio de um homem a morte veio até nós, também por meio de um homem veio a ressurreição dos mortos, e, como todos morrem em Adão, assim todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo, as primícias, depois na sua vinda aqueles que são de Cristo. Então virá o fim, quando Ele entregar o reino a Deus Pai, depois de reduzir a nada toda autoridade e todo poder. Pois Ele deve reinar até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte. E quando tudo tiver sido sujeito, Ele, o Filho, estará sujeito Àquele a que sujeitou todas as coisas, que Deus seja tudo em todos".

A recapitulação de todas as coisas em Cristo é a chave para o mistério da criação e da redenção do homem e da humanidade. Cristo é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de tudo. Ele, que revelou o Pai e o Espírito Santo, é o mediador da única e eterna aliança entre Deus e a humanidade; é Ele o Redentor e Salvador, o Messias que veio e que devemos esperar novamente pela segunda e definitiva vinda à Terra para julgar os vivos e os mortos para a instauração do Reino definitivo e de sua realeza para sempre. O seu reinado no mundo já está se desenvolvendo na expectativa da realização plena. É a inicial fase da instauração do seu Reino, que, em sua plenitude, há de se manifestar no final da história. Um reino que é construído a cada dia através do trabalho daqueles que acreditam em Cristo e nos valores proclamados por Ele.

Lembra-nos, em poucas palavras, o Prefácio da Solenidade de hoje: “Fostes vós, ó Deus, que com óleo de alegria consagrastes Sacerdote eterno e Rei do Universo o vosso único Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor. Ele se sacrificou como vítima imaculada de paz sobre o altar da Cruz, atuou o mistério da redenção humana, sujeitando ao seu poder todas as criaturas, ofereceu a sua majestade infinita, o reino eterno e universal: reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, amor e paz".

Centra-se sobre estes valores o texto do Evangelho de Mateus (Mt 25,31-46), que percebemos como o do Juízo Final, que será expresso, sobretudo, em ordem à caridade e (o) ao amor concreto com o qual vivemos nossa existência terrena: "Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança o reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, eu era peregrino e recolhestes-me, nu e me vestistes, doente e visitastes-me, na prisão e fostes ver-me. Então os justos lhe perguntarão: 'Senhor, quando te vimos com fome e nós te alimentamos? com sede e te demos algo para beber? Quando te vimos peregrino e te acolhemos? sem roupa e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te? Em resposta, o rei dirá a eles: Em verdade eu vos digo: cada vez que fizestes isso a um desses meus irmãos mais pequeninos, fizestes a mim."

E é em cima da caridade que seremos julgados se somos dignos ou não de adentrar no Reino de Deus. Uma caridade vivida no dia-a-dia no serviço aos pobres e aos necessitados de toda espécie. A caridade que vem do coração e vai ao coração, que não faz cálculos ou conta o tempo e o espaço para servir a causa dos últimos e marginalizados.

Jesus nos ensina a entrar nesta dinâmica de amor e de experimentar este amor, porque a verdadeira grandeza do homem, sua verdadeira realeza, a nobreza, especialmente do coração e da mente, é precisamente este amor que se manifesta e sempre é capaz de doar-se. É como o Bom Pastor que vai em busca da ovelha perdida, que cuida do doente, que cuida de todas as ovelhas do seu rebanho, e se alguma está em falta não se resigna à sua perda, mas a busca com insistência. É a ação da graça de Deus agindo silenciosamente e de maneiras misteriosas para a conversão do coração e da vida daqueles que vivem em comunhão com Ele, consigo mesmo e com os outros.

E é impressionante o efeito cenográfico e visual do pastor trazido à nossa atenção por meio da passagem do profeta Ezequiel, que é a primeira leitura da Palavra de Deus hoje (Ez 34,11-12.15-17), na Solenidade de Cristo Rei: "Assim diz o Senhor Deus: ‘Eis que eu mesmo vou procurar as minhas ovelhas e vou cuidar delas. Como um pastor busca o seu rebanho, quando está entre as suas ovelhas que estavam dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas e vou resgatá-las de todos os lugares onde foram espalhadas, nos dias nublados e escuros. Eu mesmo conduzirei minhas ovelhas... Esse tema é repetido também no texto do salmo responsorial, tirado de Salmo 22: “O Senhor é meu pastor, nada me faltará, Ele me faz repousar em verdes pastos, guia-me mansamente em águas tranquilas”. Ele me leva por sendas direitas por amor do seu nome. Mesmo que eu ande pelo vale escuro, não temerei mal algum, porque ele estará comigo... e habitarei na casa do Senhor para sempre."

Com estes sentimentos no coração, podemos concluir o ano litúrgico e dar graças a Deus por todas as bênçãos espirituais que Ele nos deu neste ano, com a esperança de que tenhamos contribuido de modo substancial no caminho para a santidade. Porque cada ano que passa, seja esse litúrgico ou do calendário, é um processo lento, mas seguro, na aproximação final do ingresso definitivo do Reino de Deus. Ingresso que será sancionado com a nossa morte, o último inimigo a ser destruído por este Rei único e especial, humilde e generoso, que veio entre nós, viveu e morreu por nós e ressuscitou por nós.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Origem e significado do santo Rosário

Corria o ano da graça de 1214. Havia bastante tempo que o Languedoc, região meridional da França, vinha sendo assolado por uma infame e terrível heresia: a dos albigenses.

Convocada uma Cruzada para estancar o mal, o choque entre católicos e hereges não tardou a acontecer. E a terra da nobre nação francesa passou a ser o teatro de inúmeras e sangrentas batalhas em que católicos e albigenses disputavam o terreno palmo a palmo.

S DOMINGOS DE GUSMAO-2.jpgPorém, apesar de tanto sangue derramado, a heresia continuava a devastar as almas. Como mover o Céu a derrotá-la? Como obter de Deus uma vitória definitiva?

Dias de terrível aflição foram aqueles! Havia horas em que tudo parecia perdido, e a heresia triunfante tudo destruía, manchava e conspurcava.

Nesse estado de tribulação extrema da Cristandade, São Domingos, movido por inspiração divina, entra numa grande e densa floresta próxima de Toulouse (capital do Languedoc). Ali passa três dias e três noites em contínua oração e penitência, não cessando de gemer, de chorar e de se flagelar, implorando a Deus que tivesse pena de sua própria glória calcada aos pés pela heresia albigense.

Em conseqüência de tamanho ardor e esforço, acaba por cair semi-morto. E eis que então, Maria Santíssima, resplandecente de glória, lhe aparece.

A conversão dos albigenses por São Domingos

"A Santíssima Virgem, que estava acompanhada de três princesas do Céu, lhe disse: ‘Sabes tu, meu caro Domingos, de que arma a Santíssima Trindade se serviu para reformar o mundo?' - ‘Ó Senhora! respondeu ele, Vós o sabeis melhor do que eu, porque depois de vosso Filho Jesus Cristo fostes o principal instrumento de nossa salvação'. Ela continuou: ‘O instrumento principal dessa obra foi o Saltério angélico, que é o fundamento do Novo Testamento. Portanto, se queres ganhar para Deus esses corações endurecidos, reza meu Saltério'. O Santo levantou-se muito consolado e, abrasado de zelo pelo bem desses povos, entrou na catedral. No mesmo momento os sinos tocaram, pela intervenção dos Anjos, para reunir os habitantes. No início da pregação caiu uma espantosa tempestade. A terra tremeu, o sol se nublou, os trovões e relâmpagos redobrados fizeram estremecer e empalidecer todos os ouvintes. Seu terror aumentou ao verem uma imagem da Santíssima Virgem, exposta num lugar eminente, levantar três vezes os braços para o céu, para pedir ao Senhor vingança contra eles se não se convertessem e não recorressem à proteção da santa Mãe de Deus.

O Céu queria, por esses prodígios, estimular a nova devoção do santo Rosário e torná-la mais conhecida. A tormenta cessou, por fim, devido às orações de São Domingos. Ele continuou seu sermão e explicou com tanto fervor e entusiasmo a excelência do santo Rosário, que quase todos os tolosinos o adotaram, renunciando a seus erros. Em pouco tempo verificou-se uma grande mudança na vida e nos costumes da cidade."

Essa narrativa, de autoria do Bem-aventurado Alano de la Roche (1428-1475), no seu famoso livro Da dignidade doROSARIO_01 RAE 22.jpg Saltério*, é conforme a uma sólida e venerável tradição, segundo a qual a pregação do Rosário foi recomendada pessoalmente por Nossa Senhora a São Domingos.

Apesar de, modernamente, a autenticidade desses fatos haver sido contestada por vários especialistas, que alegam a ausência de documentos contemporâneos que os atestem, a crítica histórica vem demonstrando o acerto de se considerar São Domingos - fundador da Ordem dos Pregadores (os dominicanos) - como o instituidor do Rosário, e a voz de numerosos Pontífices Romanos o confirmam.

Assim, a devoção do Rosário continua estreitamente vinculada a São Domingos, sem dúvida o seu primeiro grande propagador. Obtendo excelentes frutos, ele o pregou durante o resto de sua vida "não só pelo exemplo, como de viva voz, nas cidades e nos campos, diante dos grandes e dos pequenos, dos sábios e dos ignorantes, diante dos católicos e dos hereges" 58.

Alguns anos depois da morte de São Domingos, o costume da recitação do Rosário começ0u a cair pouco a pouco em desuso, por diversas causas. Um de seus filhos espirituais, o Bem-aventurado Alano de la Roche, no século XV, trabalhando incansavelmente na restauração dessa piedosa prática, conseguiu fazê-la reflorescer e difundir por todo o orbe católico.

Coroa de rosas

São Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716), grande apóstolo da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, consagrou um de seus extraordinários escritos a enaltecer as excelências do Rosário. Trata-se de O segredo admirável do santíssimo Rosário para se converter e se salvar, em cujas páginas o Santo comenta a origem dessa prática de devoção, seu significado e suas maravilhas, reveladas pela própria Mãe de Deus.

As considerações apresentadas em seguida são extraídas da mencionada obra de São Luís Grignion a respeito do Rosário.

Depois que o Bem-aventurado Alano de la Roche renovou essa devoção ao Saltério de Maria, a voz popular, que é a voz de Deus, conferiu-lhe o nome de Rosário, que significa "coroa de rosas". Quer dizer que todas as vezes que alguém reza, de modo conveniente, seu Rosário, deposita sobre a cabeça de Jesus e de Maria uma coroa formada de 153 rosas brancas e 16 rosas vermelhas do Paraíso, as quais nunca perderão sua beleza ou seu brilho. A Santíssima Virgem aprovou e confirmou esse nome MAOS DE NOSSA SENHORA COM O TER?O........jpgde Rosário, revelando a vários devotos seus que eles Lhe apresentariam tantas e agradáveis rosas quantas Ave-Marias recitassem em sua honra; e tantas coroas de rosas quantos fossem os Rosários por eles rezados.

O Irmão Afonso Rodrigues, da Companhia de Jesus, recitava seu Rosário com tanto fervor que se via, com freqüência, a cada Pai-Nosso, sair de sua boca uma rosa vermelha, e a cada Ave-Maria uma branca, igual em beleza e em bom odor.

As crônicas de São Francisco narram que um jovem religioso tinha o louvável costume de rezar todos os dias, antes da refeição, a coroa da Santíssima Virgem. Um dia, não sei por que imprevisto, deixou de fazê-lo. Tendo soado a hora do jantar, pediu a seu superior a permissão para recitá-la antes de se dirigir à mesa. Com esta licença, recolheu-se em seu quarto. Porém, como demorasse em retornar, o superior enviou um religioso para chamá-lo.

Esse religioso o encontrou no seu quarto, todo resplandecente de celeste luminosidade, e a Santíssima Virgem e dois anjos junto dele. À medida que ele dizia uma Ave-Maria, uma bela rosa saía de sua boca; os anjos recolhiam as rosas, uma após outra, e as colocavam sobre a cabeça da Santíssima Virgem, que manifestava sua alegria com tais adornos. Dois outros religiosos, enviados para ver a causa da demora dos primeiros, presenciaram todo esse mistério, e Nossa Senhora só desapareceu quando a coroa foi inteiramente recitada.

O Rosário é, pois, uma grande coroa, e o Terço [a terça parte do Rosário] é um pequeno chapéu de flores ou um diadema de rosas celestes que se deposita sobre a cabeça de Jesus e de Maria. Assim como a rosa é a rainha das flores, assim também o Rosário é a rosa e o primeiro dos atos de piedade.


FONTE:http://www.acnsf.org.br/article/7633/Origem-e-significado-do-santo-Rosario.html